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Local extremo
Desenvolvemos periodicamente exposições e projetos em colaboração tais como Lugar Tênue (2014), O tempo que faz (2014), Perdidos no Espaço (2003-2011), Prosa de Jardim I e II (2007-2008), O Inversor (1993-1996), ou Vestígio (1985), os quais são realizados paralelamente às nossas produções e pesquisas pessoais. Mais recentemente, acompanhamos determinados contextos em transformação (arquitetônicos, urbanos, geográficos), que suscitam processos de criação e reflexão.
Nesta exposição-instalação são utilizadas fotografias, cartografias, vídeo e pontuações em vinil adesivo, enfatizando o seu processo de apresentação e sua relação com o espaço expositivo. Através desses meios, recolhemos e articulamos observações, imagens, reflexos e reflexões produzidas a partir de nossas vivências no bairro Petrópolis em Porto Alegre, onde residimos. Em contraponto a esse contexto e a essas obras são também expostas imagens realizadas na Rússia, durante a residência preparatória para a Bienal de Yakutsk (Sibéria), em 2014.
De forma comparativa, podemos afirmar que em relação às grandes escalas e distâncias, em relação ao global, alguns de nossos trabalhos e pesquisas se desenvolvem a partir do espaço onde ocorrem nossas experiências mais imediatamente próximas e cotidianas: nossa casa, a vizinhança, as ruas do bairro, nosso lugar de trabalho, enfim, a cidade na qual nos movemos. Maria Ivone dos Santos chama de local extremo essa ênfase no contato e na experiência do próximo, na qual se abrem e reverberam as conexões com o distante, experiência essa vivenciada como um espaçamento do pensamento.
O que propomos resulta do diálogo e da parceria entre nossas respectivas práticas. Uma forma de conversar, pontuando aspectos que nós elaboramos individualmente, mas que quando reunidos, criam pensamentos que se conectam, por proximidade, associação ou justaposição. Nossos trabalhos tornam-se permeáveis, produzindo um terceiro elemento, outra situação.
Hélio Fervenza e Maria Ivone dos Santos
Porto Alegre – 2016
Local extremo: ruaquintal
Em março de 2016, em Porto Alegre, no Brasil, eu e Maria Ivone dos Santos realizamos uma exposição-instalação chamada Local extremo. Nela foram utilizadas fotografias, cartografias, vídeo e pontuações em vinil adesivo, enfatizando o seu processo de apresentação e sua relação com o espaço expositivo. Através desses meios, reunimos e articulamos observações, imagens, reflexos e reflexões produzidas a partir de nossas vivências no bairro Petrópolis em Porto Alegre, onde residimos. Em contraponto a esse contexto e a essas obras foram também expostas imagens realizadas na Rússia, durante a residência preparatória para a BY14. Em relação à cidade onde vivemos, Yakoutsk situa-se literalmente do outro lado do mundo, e entre todos os que ali estavam como participantes, nós éramos aqueles que vinham do lugar mais distante.
Na exposição de 2016 nós trabalhamos então com a noção de Local extremo, criada por Maria Ivone dos Santos no período em que elaborávamos o projeto para a BY14. Ela chama de local extremo essa ênfase no contato e na experiência do próximo, na qual se abrem e reverberam as conexões com o distante, experiência essa vivenciada como um espaçamento do pensamento. Essa noção se refere de forma mais direta, ao fato de que alguns de nossos trabalhos e pesquisas se desenvolvem a partir do espaço onde ocorrem nossas experiências mais imediatamente próximas e cotidianas.
Nesse sentido então, apresentei na exposição Local extremo o trabalho intitulado ruaquintal (2005-2016), decorrente de pesquisa e mapeamento que venho realizando há alguns anos, das numerosas árvores frutíferas que se encontram nas calçadas, e no entorno próximo de onde moro. Esses procedimentos resultaram num conjunto de sete mapas impressos, realizados a partir de uma página do guia de ruas de Porto Alegre, a qual mostrava a cartografia da área na qual se encontra a casa onde vivo. Cada um dos mapas recebeu um tratamento digital que apagava parcialmente partes da página, e ao mesmo tempo, nele era incluída e indicada uma árvore frutífera. Entre essas árvores estão espécies nativas como a jabuticabeira e a cerejeira-do-mato, mas também árvores originárias de países situados do outro lado do mundo, como a Índia, por exemplo.
Local extremo é uma expressão ambivalente. Ela significa em nossa linguagem e em nosso imaginário um lugar muito distante ou de difícil acesso, com condições adversas e que confronta nossos limites, sejam eles físicos ou mentais, mas ao mesmo tempo, traz inserido em sua composição a palavra local que indica um lugar preciso que se diferencia do espaço global, como na expressão “pensar globalmente, agir localmente”.
Local extremo como o extremo da contigüidade de nosso corpo em relação ao lugar onde habitamos.
Local extremo como as relações possíveis que surgem ao pensarmos as posições e as diferenças entre essa extrema contigüidade e o extremo distante.
Local extremo como aquilo que se revela no extremamente local como sendo de um lugar extremamente distante: uma árvore originária da China na esquina de nossa casa em Porto Alegre.
Hélio Fervenza
Novembro 2016 |