Realizei em 2005 uma exposição individual no Museu Victor Meirelles em Florianópolis, SC, intitulada Primeiras apresentações e pontuações recentes. A exposição surgiu de um convite da direção do museu para expor uma série de xilogravuras realizadas entre 1987 e 1990 (ver texto do folder da exposição). Junto com essas gravuras foram intercaladas e dispostas no espaço de exposição, na porta de entrada, e indo até a parede do prédio na frente do museu, algumas vírgulas recortadas em vinil adesivo medindo aproximadamente 5 x 3 cm. Na porta de vidro automática da entrada, foram colocadas vírgulas no seu lado interno e externo, pontuando sutilmente o espaçamento produzido pelo visitante ao acionar com sua presença o sensor e entrar no recinto. A pontuação relacionava também o espaço interno da sala de exposição e o externo da rua, problematizando os limites físicos e simbólicos entre um e outro e sua relação com o visitante. Essas vírgulas em cinza claro provêem de diferentes tipos de fontes usadas comumente hoje em dia para a escrita e encontradas facilmente nos programas de texto dos computadores. Elas foram recolhidas a partir de uma numerosa diversidade de estilos tipográficos existentes. Foi uma experiência surpreendente ampliá-las e descobrir as múltiplas variações de suas formas. Os tipógrafos ou designers que as produziram, criaram formas específicas para acompanhar o conjunto das fontes correspondentes. Eles aplicaram-se em elaborar formas que, por outro lado, serão utilizadas de uma maneira quase invisível. Assim, o fato de ampliá-las enfatiza sua forma e sua função. As vírgulas são signos que na leitura cotidiana apresentam-se muitas vezes no limite do perceptível. Podemos parar diante de sua indicação, mas damos pouca atenção à sua existência em si, bem como a sua forma, que produz intervalos, operações sintáticas, semânticas (é o signo relacional por excelência). As pontuações estão lá, nós seguimos suas indicações, mas não as vemos. Transitamos e vivemos num mundo atravessado por uma proliferação exorbitante de signos de distintas naturezas: um jorrar contínuo, uma radiofonia constante, um pulsar de figuras, imagens e objetos, um jogo de conotações ilimitado. Nosso percurso entre eles e através deles seria também uma espécie de montagem? Um percurso que precisaria (re)inventar sua pontuação, seus atravessamentos, suas relações, seus sentidos, seus pontos de continuidade e intervalo, suas indeterminações. Mas será que distinguimos os entornos culturais, os discursos implícitos, as formas de organização da arte e do mundo? Relacionar então, não somente o que dizemos ou o que mostramos, mas como e a partir de onde o fazemos e o que abrimos com isso (para onde abrir?). Helio Fervenza 2006 |
||