prosa de jardim

  Passeávamos cotidianamente pelo bairro Petrópolis em Porto Alegre e nos chamava a atenção aquela casa escondida por detrás da densa vegetação, na Rua Faria Santos. Uma veneziana fechada deixava filtrar uma lâmpada que se mantinha acessa no seu interior. Numa destas caminhadas fomos surpreendidos pelo desaparecimento do muro, da residência e de toda a vegetação. Pela primeira vez podíamos penetrar no interior deste terreno privado e em meio aos escombros de uma casa pudemos então nos acercar dos vestígios de sua existência. Um conjunto de azulejos pintados por alguém que assinava Veit, no qual figurava um poema de Lamartine, escrito em francês, destilou para nós, como numa revelação, seu perfume oculto: “O jardim é a prolongação natural da casa. O jardim é uma casa sem teto.”

Entretempos o jardim continuava a crescer em nossas conversas. Quando nos reunimos, para uma exposição, por exemplo, parecem brotar novas espécies. Joinville nos evoca o bouquet de rosas recém colhidos e ofertados por Emílio Kuntz, num dia e numa Alsácia hoje tão distante. Ele que poderia ter nascido em Joinvile se não fosse um acidente, deixou-me um maço de cartas.

Aberta a caixa de essências, esta exposição articula tempos e memórias a espera de um espaço de partilha.

Maria Ivone dos Santos e Hélio Fervenza
1999-2008