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Lugar Tênue
Michel de Certeau no livro A invenção do cotidiano: artes de fazer relaciona e diferencia espaço e lugar, dizendo-nos que “o espaço é um lugar praticado. Assim, a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres. Do mesmo modo, a leitura é o espaço produzido pela prática do lugar constituído por um sistema de signos – um escrito.” Em vista disso, poderíamos inverter o enunciado e pensar que lugar é também aquilo que persiste na ausência da vivência que criou um espaço. Aquilo que insiste na memória, na imagem, no mapa, na linguagem, no corpo. Nesse sentido, lugar tênue é aquele que persiste enquanto impermanência, aquele que se apresenta a nós de forma breve e fugidia na transição do espaço para o lugar: lampejo mental, reflexo nas superfícies: o momento de sua instauração, mas também de sua rarefação. É a faísca e o vislumbre da invenção, da descoberta, da percepção de um lugar outro como decorrência da vivência de um espaço.
Hélio Fervenza |